'saber o que quer, ir à luta e todo mundo ser igual'

sábado, 31 de julho de 2010

"quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos"


“Por viver muitos anos dentro do mato
moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro –
Contraiu visão fontana.”
manoel de barros

O menino passarou. Não, não quer dizer que ele se tornou um pássaro. Muito menos que ele se parece com um pássaro ou tem atitudes de pássaro. Não se trata de metáfora ou qualquer outro tipo de comparação.
O menino contraiu um devir-pássaro. É como se entre ele e o pássaro houvesse uma harmonia, uma linguagem comum, um sentimento compartilhado. É como se o pássaro se sentisse tão à vontade e fizesse um ninho em sua cabeça. É como se ele se sentisse tão próximo e fizesse o pássaro dormir em suas mãos. Mas isto não quer dizer que o devir dependa do contato, de uma convivência conjunta. Contrair o devir-pássaro é contrair a potência do pássaro.
Mas para isso, é preciso se despojar de uma realidade demasiadamente humana. Seria o mesmo que falar uma linguagem sem gramática ou pensar o funcionamento do corpo sem os órgãos. Isto é possível?
Há quem aposte que sim!

noboteco.wordpress.com

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